O que lhe quero dizer é que não basta fazer listas infinitas de desejos, se os objetivos não forem acompanhados por um plano de ação realista e que vise a construção de novos hábitos. E nesta nova jornada que agora se inicia gostava que colocasse a sua saúde psicológica no centro das atenções. 

Não falo apenas da ausência de doença mental, mas sim da capacidade de utilizarmos as nossas competências para gerir os desafios do dia-a-dia nos diferentes contextos em que vivemos (por exemplo, no trabalho ou na família). No fundo, alcançar um estado de bem-estar que permite realizar as suas capacidades e potencial, lidar com o stresse normal do dia-a-dia, trabalhar produtivamente e contribuir, de forma ativa, para a sua comunidade. Inevitavelmente, inclui-se aqui a forma como pensamos, sentimos, avaliamos as situações, nos relacionamos e tomamos decisões. Quando temos saúde psicológica, tendemos a sentirmo-nos confiantes e capazes de lidar com a nossa vida e com as outras pessoas. 

Olhemos, então, para o que diz a investigação sobre os elementos que contribuem, promovem e protegem a nossa saúde. Os estudos destacam, a título de exemplo, o suporte social, o exercício físico, a alimentação saudável, o sexo, a rotina do sono e o acesso a ajuda especializada. 

É sabido que ter uma rede de suporte social prevê resultados positivos ao nível da saúde psicológica, assim como a sua ausência está negativamente associada a sintomas de várias perturbações mentais, incluindo depressão e perturbação de stresse pós-traumático. Além disso, os investigadores demonstraram que o apoio social percebido, ou seja, o sentimento subjetivo de ser apoiado por outros e ter com quem contar, está associado de forma mais significativa a resultados positivos na saúde mental do que o apoio social recebido (isto é, o real). 

A atividade física, já sobejamente conhecida pelos seus benefícios para a dita saúde física, é cada vez mais associada a efeitos positivos na esfera psicológica. Por um lado, é uma intervenção não estigmatizante, com poucos efeitos secundários e, por outro, vista como útil para a promoção da saúde mental e importante para a intervenção/tratamento de doenças mentais, particularmente na redução da sintomatologia depressiva. 

No que respeita à alimentação, vários estudos com adolescentes ou jovens adultos encontraram associações entre não tomar o pequeno-almoço e o excesso de peso e/ou obesidade, uma perceção corporal mais negativa e um comportamento alimentar pouco saudável, incluindo baixo consumo de fruta e vegetais, maior consumo de doces ou refrigerantes e saltar outras refeições.

Por sua vez, as pessoas que tomam a decisão de saltar o pequeno-almoço apresentam, em termos de saúde psicológica, relatos que incluem stresse, humor depressivo, menor índice de felicidade, ideação suicida e/ou comportamentos auto-lesivos e uma menor duração e qualidade do sono. Inclusive, foram avançadas hipóteses explicativas para o facto de o pequeno-almoço contribuir para reduzir a saúde mental. Nomeadamente, após o pequeno-almoço, os hidratos de carbono são convertidos em glucose, essencial para a formação do triptofano, uma proteína precursora da síntese da serotonina, um neurotransmissor que atua no cérebro e é conhecido como a molécula da felicidade, com interferência ao nível da regulação dos sintomas depressivos, do humor irritável e do funcionamento cognitivo. 

Quanto à vida sexual, existem evidências de que estar próximo do parceiro (física e emocionalmente) pode baixar os níveis de stresse, uma vez que a intimidade física pode desencadear a libertação de todos os tipos de químicos no cérebro associados à plenitude e bem-estar, inclusive dopamina (por exemplo, contribui para a capacidade de concentração e atenção e, geralmente, aumenta a motivação), endorfinas  (os combatentes naturais da dor e do stresse do nosso corpo) e oxitocina (conhecida como “a hormona do amor”, que pode desencadear sentimentos de compaixão, carinho, amor, intimidade).

Com o sexo não é propriamente uma questão de “quanto mais melhor”, mas os estudos concluem que uma completa ausência de sexo pode ser bastante prejudicial para o bem-estar. Há algumas provas de que a falta de sexo está associada a sentimentos de depressão e baixa autoestima. Ter sexo é uma parte importante do amor e da conexão emocional e humana. 

Praticar sexo muda a química do cérebro, contribuindo, inclusive, para o aumento das capacidades cognitivas. Por exemplo, uma investigação indicou que os roedores sexualmente ativos tinham mais neurónios no seu hipocampo (uma região cerebral ligada à memória) do que os ratos virgens. Nos ratos com maiores capacidades cognitivas, perderam-se as melhorias cognitivas alcançadas, após a interrupção da atividade sexual. Já em humanos, a investigação sobre o orgasmo feminino e a atividade cerebral indicou que o clímax sexual consegue ativar todas as partes do cérebro, uma vez que o sangue flui ao transportar uma onda de nutrientes e oxigénio para as células cerebrais. 

Como se não bastasse, a atividade sexual também tem sido associada à longevidade e à saúde em geral. Um estudo apurou que ter sexo regular pode fazer ambos, homens e mulheres, parecer que são entre cinco e sete anos mais novos do que realmente são. O exercício físico (inerente à prática sexual) não só torna as pessoas fisicamente mais saudáveis, como também é conhecido por melhorar o humor, reduzir e ajudar a lidar com o stresse, aumentar os sentimentos de autossatisfação e aumentar os níveis de energia. Numa amostra expressiva da população sueca, a frequência das relações sexuais foi um preditor significativo de uma maior satisfação, tanto dos homens como das mulheres, com a sua saúde mental. 

Por fim, diz-nos a evidência disponível que quantidades saudáveis de sono estão associadas a um melhor humor, produtividade e uma maior satisfação com a vida. Durante o sono, o corpo e o cérebro reparam-se a si próprios, fortalecendo o sistema imunitário (que tem laços estreitos com a saúde psicológica), amortecendo a resposta ao stresse e ajudando a regular as emoções, a consolidar memórias e pensamentos, a focalizar e a ligar-se a outros. Existem já estudos que estabelecem uma relação entre a privação do sono e o custo para a economia através da perda de produtividade. 

O que lhe quero dizer é que não basta fazer listas infinitas de desejos, se os objetivos não forem acompanhados por um plano de ação realista e que vise a construção de novos hábitos. E nesta nova jornada que agora se inicia gostava que colocasse a sua saúde psicológica no centro das atenções. 

Não falo apenas da ausência de doença mental, mas sim da capacidade de utilizarmos as nossas competências para gerir os desafios do dia-a-dia nos diferentes contextos em que vivemos (por exemplo, no trabalho ou na família). No fundo, alcançar um estado de bem-estar que permite realizar as suas capacidades e potencial, lidar com o stresse normal do dia-a-dia, trabalhar produtivamente e contribuir, de forma ativa, para a sua comunidade. Inevitavelmente, inclui-se aqui a forma como pensamos, sentimos, avaliamos as situações, nos relacionamos e tomamos decisões. Quando temos saúde psicológica, tendemos a sentirmo-nos confiantes e capazes de lidar com a nossa vida e com as outras pessoas. 

Olhemos, então, para o que diz a investigação sobre os elementos que contribuem, promovem e protegem a nossa saúde. Os estudos destacam, a título de exemplo, o suporte social, o exercício físico, a alimentação saudável, o sexo, a rotina do sono e o acesso a ajuda especializada. 

É sabido que ter uma rede de suporte social prevê resultados positivos ao nível da saúde psicológica, assim como a sua ausência está negativamente associada a sintomas de várias perturbações mentais, incluindo depressão e perturbação de stresse pós-traumático. Além disso, os investigadores demonstraram que o apoio social percebido, ou seja, o sentimento subjetivo de ser apoiado por outros e ter com quem contar, está associado de forma mais significativa a resultados positivos na saúde mental do que o apoio social recebido (isto é, o real). 

A atividade física, já sobejamente conhecida pelos seus benefícios para a dita saúde física, é cada vez mais associada a efeitos positivos na esfera psicológica. Por um lado, é uma intervenção não estigmatizante, com poucos efeitos secundários e, por outro, vista como útil para a promoção da saúde mental e importante para a intervenção/tratamento de doenças mentais, particularmente na redução da sintomatologia depressiva. 

No que respeita à alimentação, vários estudos com adolescentes ou jovens adultos encontraram associações entre não tomar o pequeno-almoço e o excesso de peso e/ou obesidade, uma perceção corporal mais negativa e um comportamento alimentar pouco saudável, incluindo baixo consumo de fruta e vegetais, maior consumo de doces ou refrigerantes e saltar outras refeições.

Por sua vez, as pessoas que tomam a decisão de saltar o pequeno-almoço apresentam, em termos de saúde psicológica, relatos que incluem stresse, humor depressivo, menor índice de felicidade, ideação suicida e/ou comportamentos auto-lesivos e uma menor duração e qualidade do sono. Inclusive, foram avançadas hipóteses explicativas para o facto de o pequeno-almoço contribuir para reduzir a saúde mental. Nomeadamente, após o pequeno-almoço, os hidratos de carbono são convertidos em glucose, essencial para a formação do triptofano, uma proteína precursora da síntese da serotonina, um neurotransmissor que atua no cérebro e é conhecido como a molécula da felicidade, com interferência ao nível da regulação dos sintomas depressivos, do humor irritável e do funcionamento cognitivo. 

Quanto à vida sexual, existem evidências de que estar próximo do parceiro (física e emocionalmente) pode baixar os níveis de stresse, uma vez que a intimidade física pode desencadear a libertação de todos os tipos de químicos no cérebro associados à plenitude e bem-estar, inclusive dopamina (por exemplo, contribui para a capacidade de concentração e atenção e, geralmente, aumenta a motivação), endorfinas  (os combatentes naturais da dor e do stresse do nosso corpo) e oxitocina (conhecida como “a hormona do amor”, que pode desencadear sentimentos de compaixão, carinho, amor, intimidade).

Com o sexo não é propriamente uma questão de “quanto mais melhor”, mas os estudos concluem que uma completa ausência de sexo pode ser bastante prejudicial para o bem-estar. Há algumas provas de que a falta de sexo está associada a sentimentos de depressão e baixa autoestima. Ter sexo é uma parte importante do amor e da conexão emocional e humana. 

Praticar sexo muda a química do cérebro, contribuindo, inclusive, para o aumento das capacidades cognitivas. Por exemplo, uma investigação indicou que os roedores sexualmente ativos tinham mais neurónios no seu hipocampo (uma região cerebral ligada à memória) do que os ratos virgens. Nos ratos com maiores capacidades cognitivas, perderam-se as melhorias cognitivas alcançadas, após a interrupção da atividade sexual. Já em humanos, a investigação sobre o orgasmo feminino e a atividade cerebral indicou que o clímax sexual consegue ativar todas as partes do cérebro, uma vez que o sangue flui ao transportar uma onda de nutrientes e oxigénio para as células cerebrais. 

Como se não bastasse, a atividade sexual também tem sido associada à longevidade e à saúde em geral. Um estudo apurou que ter sexo regular pode fazer ambos, homens e mulheres, parecer que são entre cinco e sete anos mais novos do que realmente são. O exercício físico (inerente à prática sexual) não só torna as pessoas fisicamente mais saudáveis, como também é conhecido por melhorar o humor, reduzir e ajudar a lidar com o stresse, aumentar os sentimentos de autossatisfação e aumentar os níveis de energia. Numa amostra expressiva da população sueca, a frequência das relações sexuais foi um preditor significativo de uma maior satisfação, tanto dos homens como das mulheres, com a sua saúde mental. 

Por fim, diz-nos a evidência disponível que quantidades saudáveis de sono estão associadas a um melhor humor, produtividade e uma maior satisfação com a vida. Durante o sono, o corpo e o cérebro reparam-se a si próprios, fortalecendo o sistema imunitário (que tem laços estreitos com a saúde psicológica), amortecendo a resposta ao stresse e ajudando a regular as emoções, a consolidar memórias e pensamentos, a focalizar e a ligar-se a outros. Existem já estudos que estabelecem uma relação entre a privação do sono e o custo para a economia através da perda de produtividade. 

Para um melhor ano, para uma vida melhor, preste atenção ao que diz o conhecimento científico. Por isso, invista e valorize a sua rede de suporte social, encaixe um tempo na sua agenda para a atividade física, procure comer melhor, faça mais sexo, respeite a necessidade de descansar e dormir um determinado número mínimo de horas. No fundo, cuide mais de si, numa rotina de autocuidado com maiores ganhos ao nível da sua saúde. É disso que se trata: funcionar adequadamente e atingir o seu potencial máximo, facilitar comportamentos apropriados e adaptativos através de estratégias e atividades práticas no quotidiano que permitem cuidar da saúde. 

Esta sistematização de informação é um contributo útil para a literacia acerca da saúde psicológica. Quanto mais conhecermos os recursos e fatores protetores que contribuem para o nosso bem-estar, aos quais podemos ter acesso, assim como a que sinais e sintomas podemos, antecipadamente, atender para identificar alguma alteração, mais estaremos capacitados a agir preventivamente, para não ficarmos encurralados em qualquer estigma e, se assim for necessário, solicitar ajuda especializada. Num contributo seguro para o aumento da referida literacia a Ordem dos Psicólogos Portugueses disponibiliza o eusinto.me, um portal que reúne um conjunto de informação e recursos sobre saúde psicológica e bem-estar em diferentes contextos. 

Lembre-se que uma atitude positiva e não estigmatizante em relação às perturbações mentais inclui a compreensão, a compaixão e a empatia em relação aos outros e ao próprio. Recorrer a acompanhamento por profissional habilitado pode ser determinante para o bem-estar em determinadas fases do ciclo de vida. 

E já agora a propósito deste tema que o caso de Amélie Battle Bastos não se resuma a um conjunto de publicações online, que rapidamente serão esquecidas, mas a uma preocupação efetiva por parte de quem decide e pode mudar o rumo do que ao investimento na saúde mental diz respeito. Há muito que eu e outros profissionais da psicologia e psiquiatria escrevemos e falamos sobre saúde mental; há muito que várias entidades, como a Ordem dos Psicólogos Portugueses e a Sociedade Portuguesa de Suicidologia, alertam para a falta de investimento e promoção da saúde mental. Do que estamos à espera? 

Fonte: Sic Notícias

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